Há quase um ano adotamos a Perez. É engraçado como as coisas realmente caminham no sentido do que desejamos. Estávamos pensando em adotar um cão deficiente, mas o que eu imaginava ao pensar nisso era em ter um cachorro sem uma das patas ou com algum tipo de doença crônica e, de repente, estávamos com ela, um cãozinho cego!
Quando ela pisou pela primeira vez em nosso quintal (que é cheio de degraus e rampas) logo senti uma tristeza grande... Ela não acertava um passo e batia em quase tudo. Pensei que não seria possível ela viver ali. Tínhamos um quintal grande e uma enorme vontade de ficar com ela, mas parecia não ter jeito...
Daí veio a visita ao veterinário e a fala dele: “não se preocupem, uma das coisas que menos vai fazer falta a um cachorro é a visão, ela vai se acostumar rápido, vocês vão ver”! Após ouvir isso, ficamos um pouco mais aliviados e confiantes. Era questão de tempo a adaptação dela, mesmo num local cheio de possíveis perigos. E dez meses depois temos um cão mega adaptado, a ponto de quem olha pra ela circulando pela casa ter dúvidas se ela realmente não enxerga, rsrsrs.
Após mais esta experiência com animais, resolvi compartilhar por aqui algumas dicas para quem tem ou, por que não, quer adotar um cãozinho com esta deficiência.
Dica 1: Tenha paciência
Sim, esta é a primeira coisa a se fazer. Os cães têm uma audição e olfato bastante apurados, costumam ouvir até seis vezes mais que os humanos! A visão faz sim muita falta, mas eles aprendem a se guiar de outras maneiras. Deixe ele andar, conhecer o ambiente, a casa o quintal, todo o espaço onde ele irá viver. No começo parece difícil, eles trombam em algumas coisas e levam alguns tombinhos, rsrsrs, mas aprendem com uma rapidez incrível. É óbvio que você precisa observar o ambiente para que não seja nenhum tombo extremamente alto (uma laje por exemplo) ou que possa trombar em objetos que representam riscos reais de perfuração, queimaduras ou machucado, mas desde que seja um local livre destes grandes perigos, seu cão cego vai te surpreender. Algumas semanas de paciência e vai ver como ele vai conhecer a casa melhor até que você!
Dica 2: Mantenha as coisas no lugar
Um cão cego vai se adaptar com muita facilidade e rapidez ao ambiente em que ele for morar (ou até mesmo a sua própria casa, caso ele já viva com você e desenvolva a cegueira ao longo da vida). Mas para que tudo corra bem, é preciso manter as coisas no lugar o máximo possível. Os cães cegos desenvolvem maneiras de se guiar sem a visão, eles decoram os caminhos e o ambiente onde vivem. Se você tira algo do lugar esse estudo que ele fez e gravou fica confuso, e ele acaba trombando. Por exemplo portas que ficam abertas e são fechadas, cadeiras fora do lugar de costume, bancos, e qualquer outro objeto que possa estar no “caminho” deles. A Perez por exemplo tromba muito em baldes quando estou passando pano na casa, rsrsrs. Eu coloco perto de onde estou limpando, mas esse balde não fica ali, certo? É questão de segundos e escuto a trombada, rsrsrs. Nada grave, só uma molhadinha, mas serve para que eu tenha mais atenção e coloque o balde sempre mais no canto da parede, onde geralmente ela não passa mesmo. Portas que geralmente ficam abertas e fechamos por algum motivo também são uma das coisas mais comuns dela trombar. Até mesmo a porta do carro quando está na garagem e abrimos pra pegar algo, tem que ser fechada logo em seguida! Senão é trombada na certa!
Dica 3: Sinais sonoros são importantes
Os cães já entendem muito o que falamos com eles. Aprendem nomes e comandos com facilidade. Quando se trata de um cão cego, esses sinais se tornam ainda mais importantes, porque são guias não só de relacionamento com o dono, mas também de localização e locomoção. A Perez já aprendeu sinais como: “Aí cai” (quando está próxima de algum degrau dizemos isso e ela logo pára e volta); “Toma” (quando estamos oferecendo alguma comida a ela). Sinais como estalos de dedo também a guiam quando ela está passeando e se distancia da gente (quando está no sítio, por exemplo).
Dica 4: Se tiver outro animal, melhor
Eu tenho quatro cães. E a interação da Perez com as outras três é muito legal. Fora o ciúme e o pouco de falta de paciência que as outras têm com ela (afinal, levam trombadas de graça sem entenderem muitas vezes porque, rsrsrs), elas servem de guia para Perez. Principalmente quando a tiramos da nossa casa, que é um local muito confortável para ela hoje. Às vezes passeamos na pracinha e no sítio do meu pai. Nestes momentos ela quer desvendar o que não conhece, anda muito e fica circulando, pisando com as patinhas mais altas, sentindo as texturas para entender onde está. Mas as outras cachorras se tornam guia dela, ela sente o cheiro ou algum barulho delas e logo se aproxima e se orienta melhor. E engraçado, muitas vezes tenho a impressão que nesses momentos, quando ela está em ambientes que não conhece muito, as outras cachorras percebem que há algo “diferente” nela, e ficam atentas, próximas a ela, meio que preocupadas em ajudar. A natureza é perfeita, né.
Dica 5: Abra seu coração!
Sim, abra seu coração! Muitas vezes pensamos em ter um animal de estimação e idealizamos um animal perfeito, de raça, caríssimo. Sim, todos eles são fofos e amáveis. Mas talvez você esteja procurando mais que isso, você esteja procurando um amigo, um companheiro, que muitas vezes está em algum lugar, na rua, num abrigo, a espera de alguém pra mudar sua vida (a dele e a sua também, pode acreditar!). Pense se não vale a pena ter um animal não tão perfeito esteticamente assim, que possa não ser comprado, mas adotado. Talvez possa ser deficiente, mas só no físico, porque no coração e no amor eles são mais que perfeitos!
Já pensou como seria a vida deles se ninguém os quisesse? Se todos quisessem animais perfeitos? Os abrigos estão lotados (já citei alguns por aqui)! Dê uma chance!