Mais alguém querendo desacelerar? Porque sinceramente, não vejo outra forma de absorver e aproveitar tudo que nos é oferecido hoje se não for assim, tirando um pouco o pé do acelerador. Não preciso me alongar muito sobre a enxurrada de informações que caem sobre nós diariamente, especialmente pelos meios digitais. Só pra contextualizar um pouquinho, ouvi de Christyano Malta, em um evento recente, que entre 1905 e 2005 o ser humano passou a receber cerca de 50 vezes mais informações. Isso em 2005, antes desse boom digital, imagina como é hoje!
Particularmente, percebo dois fatores principais neste tema: a falta de concentração e as angústias que tanta informação traz. Isso porque, a meu ver, estamos consumindo errado.
Fico observando as pessoas com seus smartphones nas mãos e com a velocidade em que teclam suas telas passando conteúdo, é praticamente impossível que estejam realmente lendo ou absorvendo algo. Creio que estejam apenas olhando as fotos, e muitas das vezes, não leem as legendas, não sabem nem quem postou, apenas miraram, sem absorverem ou tirar nada de positivo (ou de negativo, que seja), mas sem formar nenhuma opinião. Apenas consomem por consumir, freneticamente. E isso traz a angústia.
Angústia por não conseguir nunca ver tudo que está ali (ver mesmo tá, só ver); por não conseguir postar na mesma quantidade que outros; por não ser tão feliz, ou inteligente, ou legal quanto o outro; por não conseguir absorver o que consome, enfim.
O fato é que precisamos acalmar nossas mentes. Deixar com que ela descanse um pouco pra continuar trabalhando. Do contrário, ela se esgota, e de nada vai adiantar jogar e jogar coisas pra dentro dela, ela não vai guardar. Citando de novo o Christyano Malta, neste mesmo evento em que tive a oportunidade de ouvi-lo, uma das coisas que ele sugeriu ao público enquanto palestrava, foram dois exercícios (pelo que entendi, fazem parte das técnicas de Mindfulness, ou Calma Mental). E foi um dos poucos momentos em que vi o público (um auditório lotado) parado, em silêncio. E olha que tanto Christyano quanto os demais palestrantes no evento eram interessantes, tinham conteúdo que prendiam a atenção do público, mas ainda assim, as pessoas não largavam seus celulares e tablets.
Ao mesmo tempo que estavam ali, ouvindo e interagindo com os palestrantes e participantes, estavam fazendo outras mil coisas! Eu mesma, a cada nova informação que um palestrante dava, eu ia logo nas suas redes sociais, pesquisava, interagia, e quando percebia, tinha perdido algo legal que ele tinha acabado de apresentar! Foi quando desliguei o celular, me lembrei de quando estive no carnaval de Salvador (conto mais adiante), e comecei apenas a anotar coisas que me interessavam e que eu decidi que pesquisaria em casa, depois.
É claro que tem hora que queremos interagir no momento, postar algo, aproveitar a oportunidade, o time. Mas isso tem que ser feito sem exageros, até o limite que você perceba que não está desviando sua atenção. Senão você estará deixando de viver o presente e vivendo apenas o virtual, e isso sinceramente, não faz sentido!
Reparem nos shows, arenas esportivas e eventos no geral: a plateia está assistindo àquilo que na maioria das vezes pagou pra presenciar através das lentes de seus celulares! Que coisa maluca! A necessidade do registro é maior do que o experimento real. Não faz sentido mesmo.
Idosa chama atenção ao não usar celular em evento com Johnny Depp | Do G1, em São Paulo
Tive uma experiência assim em meu primeiro carnaval em Salvador. Era um sonho que há muito tempo eu gostaria de realizar, e quando chegou eu quis registrar tudo. Ivete Sangalo tinha chegado à minha frente, em seu trio elétrico, com toda a sua energia e daquele carnaval todo. Tudo que eu tanto queria presenciar de verdade, pessoalmente (porque pela tv e internet eu já havia acompanhado) e eu estava preocupada com meu celular, em esvaziar espaço pra filmar o momento, tirar fotos. E o trio tava passando e eu nem tinha aproveitado, nem tinha reparado nem curtido nada direito, estava preocupada com o telefone. Quando reparei isso, travei o celular, coloquei no bolso e naquela noite não tirei ele mais dali. Aproveitei muito, curti muito, talvez tenha feito menos registros do que eu gostaria, mas na minha memória está tudo aqui, guardadinho, consigo contar com detalhes (já fiz isso mil vezes, meus amigos que o digam, rsrsrs) e farei isso pra meus netos se for preciso, porque vivi de verdade. E isso vale muito! Na verdade, é o que vale!
Quantas vezes estive em estádio de futebol e ficava preocupada com outras coisas, não focava, e quando via os lances do jogo na tv no outro dia pensava: puxa, quando foi isso, nem vi...
O próprio Linkedin, que amo, que é uma das minhas redes sociais preferidas hoje, vinha me causando um pouco de angústia. Quando você escolhe corretamente para que quer usar aquela plataforma, e no meu caso, escolhi que quero o Linkedin como fonte de conteúdo que enriqueça meus conhecimentos, você começa a ver que tem muita coisa, muita mesmo que te interessa. E eu estava querendo ler tudo que aparecia em minha timeline. Só que eu não conseguia, principalmente porque tenho seguido muita gente que escreve muito, posta muito conteúdo de qualidade, com muitos dados. E não adianta ler por ler. Você tem que ler quando sua cabeça está propícia a absorver o conteúdo, você precisa estar concentrado, ter foco. Várias vezes eu lia e quando chegava no final do texto não sabia nada do que tinha lido, só perdia tempo e cansava minha mente.
Então agora passei a respeitá-la. Dar a ela o tempo necessário para descansar. Só assim ela vai estar junto comigo, vai ser útil e produtiva comigo. Só assim trabalharemos juntas.
DICA VALIOSA: durma! Durma bem, 8 horas por noite sempre que puder. O sono também é um aliado importantíssimo para a saúde da mente. Veja Série Especial Bom Sono, Boa Saúde, do Jornal da Record.